domingo, 6 de julho de 2008

Não adquiriram competências, não sabem investigar, não aprenderam a estudar sozinhos

(...) há quem considere que se os exames servem para "controlar todas as facetas da actividade docente", o professor deixa de ser um intelectual para ser um funcionário, o que "vai sair caro ao país", como nos disse Vítor Teodoro, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e membro da Sociedade Portuguesa de Física. "Antes deste processo de proletarização da função docente, os professores tinham mais autonomia; hoje são cada vez mais controlados, o que vai ter efeitos muito graves, mais tarde ou mais cedo", alerta.


(...) o docente vive um dilema permanente: ou está a trabalhar para o imediato, para o exame; ou a preparar o aluno para o dia de amanhã, para saber fazer raciocínios.


A preocupação dos docentes em preparar os alunos para os exames é "legítima", diz João Filipe Matos, coordenador do doutoramento em Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, porque o professor "também é estratificado em relação aos resultados dos alunos. Por isso, defende-se profissionalmente e, em vez de fazer actividades exploratórias, vai preparar os alunos para o exame final". Mas há quem considere que, para os estudantes, esta "formatação" é empobrecedora, pois de fora fica muita matéria que deveria ser aprendida, como refere Maria Elisa Sousa, professora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto.


O objectivo final da tutela é melhorar os resultados nos exames nacionais, dizem os professores. "O ministério está a fazer uma pressão imensa para os professores subirem as notas" e essa é a tendência sobretudo quando não estão em anos terminais, aponta Nuno Crato. E, o que acontece é que "a família, os alunos e os professores ficam todos contentes: os jovens responderam ao mínimo que lhes foi pedido, têm 16 ou 18 valores (na escala de 0 a 20) e está tudo bem", nota Feytor Pinto, da Associação de Professores de Português.


Está "tudo bem" até chegarem ao 1.º ano da universidade e ser o "descalabro" porque "não adquiriram competências, não sabem investigar, não aprenderam a estudar sozinhos", defende Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais.


PÚBLICO

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