Ao longo da minha vida, sempre procurei combater as injustiças. Por isso, gostava que alguém me explicasse por que motivo os professores que classificam provas de aferição e exames nacionais do terceiro ciclo não recebem nada por fazerem esse serviço, enquanto os classificadores das provas do ensino secundário são pagos por cada prova que corrigem, quando se regem pelo mesmo estatuto. Eu não tenho nada contra os classificadores do ensino secundário, não só porque a qualquer momento também posso ser chamado para esse serviço, mas também porque acho justo que todos sejam pagos pelo seu trabalho.
Os classificadores de Língua Portuguesa e de Matemática do ensino básico não têm só de classificar muitas dezenas de provas, têm de fazer as respectivas pautas, deslocarem-se para reuniões de aferição de critérios, de levantamento de provas, de comparação da sua correcção com as de outros classificadores e de entrega das provas, sempre a circularem no seu veículo (algumas escolas dão a esmola de pagarem 12 cêntimos o quilómetro, esquecendo-se de que os combustíveis têm subido imenso). Além disso, esses classificadores/escravos têm o mesmo serviço que os outros professores nas suas escolas (reuniões, aulas aos alunos do CEF, matrículas, entrega da avaliação aos encarregados de educação, articulação com outros ciclos, análise dos resultados e informatização de planos de recuperação já elaborados em papel - simplex). Mas o pior ainda não é isso. Quando vão entregar as provas corrigidas têm de esperar cerca de oito horas sem almoçar em filas intermináveis, sendo tratados pelos colegas que as estão a receber, como se fossem prisioneiros de Guantanamo, e vendo os classificadores das provas do secundário passarem à frente, numa discriminação que lembra os tempos do Holocausto. Por que motivo o Ministério da Educação não cria condições aceitáveis para a recepção das pautas e dos exames? Fala-se tanto de "excelência", quando os secretariados de exames dependem da carolice de alguns professores que nem podem chegar a titulares, porque as vagas estão preenchidas. Por falar nisso, alguém sabe quando é o concurso deste ano para professor titular?
Será que ainda existem sindicatos de professores ou já são dependências do Ministério de Educação? Uma prova de que anda tudo à deriva foi o entendimento entre o Ministério da Educação e a plataforma de sindicatos. Os sindicatos aceitaram o novo modelo de gestão com um pequeno adiamento e, depois, pediram aos professores para boicotarem os Conselhos Gerais Transitórios, não apresentando listas, deixando de serem representados. Isto prova que os sindicatos reconheceram, finalmente, que o acordo foi mau e que adiar o problema não o resolve.
Penso que neste momento os professores estão sozinhos, desmotivados, divididos em duas classes (que os sindicatos aceitaram, quando assinaram o memorando) e a cavarem a sua própria sepultura, preparando um modelo de avaliação injusto e que não permite que alguns excelentes professores, consigam progredir na carreira, pois as vagas já estão ocupadas.
Já não vou falar dos Centros de Formação, pois num dia o ministério diz que acabaram, noutro decreta que se devem juntar, depois refere que são as escolas a darem formação ao pessoal docente e não docente, de seguida determina que voltam a existir Centros de Formação. O que eu sei é que, neste momento, os professores estão sem formação contínua financiada. Um governo que prima pela "excelência" dá demasiados maus exemplos.
É triste algumas pessoas deixarem que lhes ponham a corda ao pescoço… O que se passa em Portugal lembra-me a acção do "Ensaio sobre a Cegueira". Pelo menos os irlandeses perceberam que só pode haver uma constituição europeia comum se também houver harmonização fiscal, social e salarial. A política que esquece as pessoas e se preocupa com os números não faz sentido.
Quem souber esclarecer as minhas dúvidas faça o favor de responder para o email salvarescola@gmail.com
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