Santana Castilho
A ministra da Educação veio tentar convencer o país de que há uma enorme recuperação, fruto das políticas do Governo.
O director do GAVE teve o topete de sugerir que quem tem criticado os exames não tem competência para se pronunciar sobre avaliação educacional. Do alto da sua arrogância, ocupado que está todo o ano em produzir provas medíocres, não teve certamente tempo para comparar o seu percurso com o daqueles a que se refere. Se o fizesse, estou em crer que a sua inteligência, a natural, lhe permitiria identificar a distância que o separa de Nuno Crato ou de Feytor Pinto. Porque não se enxerga, recordo-lhe que foi responsável por erros grosseiros nas provas de Física e de Biologia no ano passado, circunstância que deveria ter determinado a sua imediata demissão. E não me venha dizer que assumiu a responsabilidade, porque a questão não é essa, a de "assumir" o que não pode rejeitar. A questão é pagar pelos erros inaceitáveis que cometeu. Não pagou nem se emendou, já que os erros voltaram este ano. Menos graves, mas voltaram. A vice-presidente da Associação de Professores de Português, referindo-se ao exame de Português do 12.º ano, destacou a falta de acordo entre os colegas no que toca às respostas possíveis para as questões de escolha múltipla. No grupo II, item 7, vários especialistas referiram uma formulação incorrecta, que tornava certa uma resposta não considerada nos critérios de correcção. E o compromisso, já existente no ano passado, que excluía a famigerada TLEBS do exame, não foi respeitado, tendo figurado na prova o termo "verbo auxiliar modal".
Em linha com o anterior, a ministra da Educação veio tentar convencer o país de que 90 por cento de alunos com positiva a Português e 82 por cento com positiva a Matemática mostram uma enorme recuperação, fruto das políticas seguidas pelo Governo. A esta Santinha da Ladeira II é preciso lembrar a trapalhada e a iniquidade por que foi politicamente (ir)responsável em 2006, no que toca às provas de Física e Química do 12.º ano. Porque também ela, depois dos acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal Constitucional, já que não teve a dignidade de se demitir, deveria, ao menos, ser contida e humilde. Mas não. Depreciando os críticos do facilitismo dos exames, disse na SIC que só a aplicação de métodos estatísticos permitia tirar conclusões credíveis sobre a matéria. E esclareceu o seu dogma: só seriam fáceis os exames em que mais do que 5 por cento dos alunos conseguissem classificações de nível excelente. Pobre senhora, que confia demasiado nos tecnocratas que lhe alimentam o fundamentalismo! É que se ao menos tivesse feito as contas e fosse válido o que diz, as provas de Matemática do 4.º e 6.º anos de escolaridade seriam facílimas. Com efeito, o triplo desses alunos, no 4.º ano, e quase o dobro, no 6.º, superaram a fasquia mágico-científica de Sua Excelência!
Tudo visto, o que temos? O natural cumular de uma politica de primeira hora: poupar em nome do santo défice, vergar os que pensam e fabricar resultados. Esta gente sempre confundiu sucesso escolar com índices de aprovação. Por isso fomentaram provas ridiculamente elementares. Por isso lhe juntaram formulários com as fórmulas para resolver os problemas. Por isso deram instruções para não penalizar os erros de ortografia. Por isso conceberam directivas e critérios de correcção que promovem a indigência. Acuso-os de fabricarem um falso sucesso escolar. Acuso-os de tudo fazerem para que alunos que não aprendem aprovem. Acuso-os de nada fazerem para evitar que as incompetências se acumulem e alguma vez sejam recuperadas. À estatística e à ciência saloia que invocam para alindar as babosices com que vão envenenando os incautos, oponho Karl Popper:
"Eu concebo as teorias científicas como tantas outras invenções humanas, como redes criadas por nós e destinadas a capturar o mundo... Estas teorias não são nunca instrumentos perfeitos. São redes racionais criadas por nós e não devem ser confundidas com uma representação completa de todos os aspectos do mundo real, nem mesmo quando elas são bastante conseguidas, nem mesmo quando elas parecem oferecer excelentes aproximações da realidade."
Espero que o não rotulem de "pessimista de serviço".
A ministra da Educação veio tentar convencer o país de que há uma enorme recuperação, fruto das políticas do Governo.
O director do GAVE teve o topete de sugerir que quem tem criticado os exames não tem competência para se pronunciar sobre avaliação educacional. Do alto da sua arrogância, ocupado que está todo o ano em produzir provas medíocres, não teve certamente tempo para comparar o seu percurso com o daqueles a que se refere. Se o fizesse, estou em crer que a sua inteligência, a natural, lhe permitiria identificar a distância que o separa de Nuno Crato ou de Feytor Pinto. Porque não se enxerga, recordo-lhe que foi responsável por erros grosseiros nas provas de Física e de Biologia no ano passado, circunstância que deveria ter determinado a sua imediata demissão. E não me venha dizer que assumiu a responsabilidade, porque a questão não é essa, a de "assumir" o que não pode rejeitar. A questão é pagar pelos erros inaceitáveis que cometeu. Não pagou nem se emendou, já que os erros voltaram este ano. Menos graves, mas voltaram. A vice-presidente da Associação de Professores de Português, referindo-se ao exame de Português do 12.º ano, destacou a falta de acordo entre os colegas no que toca às respostas possíveis para as questões de escolha múltipla. No grupo II, item 7, vários especialistas referiram uma formulação incorrecta, que tornava certa uma resposta não considerada nos critérios de correcção. E o compromisso, já existente no ano passado, que excluía a famigerada TLEBS do exame, não foi respeitado, tendo figurado na prova o termo "verbo auxiliar modal".
Em linha com o anterior, a ministra da Educação veio tentar convencer o país de que 90 por cento de alunos com positiva a Português e 82 por cento com positiva a Matemática mostram uma enorme recuperação, fruto das políticas seguidas pelo Governo. A esta Santinha da Ladeira II é preciso lembrar a trapalhada e a iniquidade por que foi politicamente (ir)responsável em 2006, no que toca às provas de Física e Química do 12.º ano. Porque também ela, depois dos acórdãos do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal Constitucional, já que não teve a dignidade de se demitir, deveria, ao menos, ser contida e humilde. Mas não. Depreciando os críticos do facilitismo dos exames, disse na SIC que só a aplicação de métodos estatísticos permitia tirar conclusões credíveis sobre a matéria. E esclareceu o seu dogma: só seriam fáceis os exames em que mais do que 5 por cento dos alunos conseguissem classificações de nível excelente. Pobre senhora, que confia demasiado nos tecnocratas que lhe alimentam o fundamentalismo! É que se ao menos tivesse feito as contas e fosse válido o que diz, as provas de Matemática do 4.º e 6.º anos de escolaridade seriam facílimas. Com efeito, o triplo desses alunos, no 4.º ano, e quase o dobro, no 6.º, superaram a fasquia mágico-científica de Sua Excelência!
Tudo visto, o que temos? O natural cumular de uma politica de primeira hora: poupar em nome do santo défice, vergar os que pensam e fabricar resultados. Esta gente sempre confundiu sucesso escolar com índices de aprovação. Por isso fomentaram provas ridiculamente elementares. Por isso lhe juntaram formulários com as fórmulas para resolver os problemas. Por isso deram instruções para não penalizar os erros de ortografia. Por isso conceberam directivas e critérios de correcção que promovem a indigência. Acuso-os de fabricarem um falso sucesso escolar. Acuso-os de tudo fazerem para que alunos que não aprendem aprovem. Acuso-os de nada fazerem para evitar que as incompetências se acumulem e alguma vez sejam recuperadas. À estatística e à ciência saloia que invocam para alindar as babosices com que vão envenenando os incautos, oponho Karl Popper:
"Eu concebo as teorias científicas como tantas outras invenções humanas, como redes criadas por nós e destinadas a capturar o mundo... Estas teorias não são nunca instrumentos perfeitos. São redes racionais criadas por nós e não devem ser confundidas com uma representação completa de todos os aspectos do mundo real, nem mesmo quando elas são bastante conseguidas, nem mesmo quando elas parecem oferecer excelentes aproximações da realidade."
Espero que o não rotulem de "pessimista de serviço".
Professor do ensino superior
Público - 25 Jun 08
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