Durante noventa minutos, vão estar numa sala de aula que não é a sua, com uma professora que mal conhecem. Apesar da prova não contar para a avaliação, Helena, mãe de Mariana, diz que a filha tem sentido nas últimas semanas "o peso da responsabilidade".
"Já se notam muitos nervos e algum stress. Já me disse que mal acabe a prova de Português temos de ir para casa estudar para a de Matemática", afirmou a mãe, admitindo que acaba por pressionar Mariana para que "dê o seu melhor".
Segundo Raquel, também o filho Rafa anda "um pouco nervoso" dada a importância que deu às provas do 4º ano. "Eles não olham para isto como um teste normal. Sentem-no como muito importante, também porque têm sido preparados na escola para a prova".
Para acalmar o filho, a mãe tem dado alguns conselhos durante esta semana: fazer o teste com calma, "porque os 90 minutos são suficientes", rever a prova no fim, não ficar nervoso e, sobretudo, melhorar a letra.
"É que ele tem uma letra horrível", conta, sorridente.
Na escola de Mariana, a professora está a preparar os alunos desde há mês e meio. Todas as semanas realizam pelo menos uma prova modelo na sala de aula, o que obriga a um sacrifício maior da mãe, que tem passado "horas" a estudar com a filha.
"Noto que há uma grande preocupação da professora com os resultados, talvez por sentir que também vai ser avaliada. Acho que os pais e os professores influenciam muito a pressão que as crianças sentem", afirmou.
Na opinião do psicólogo Eduardo Sá, os pais vêem nestas provas uma espécie de primeiro "certificado de qualidade dos filhos" e dão-lhes uma importância que elas não têm, tal a "ansiedade" de sucesso escolar das crianças.
"Às vezes, sem se darem conta, acabam por transformar o desempenho escolar dos filhos numa espécie de troféu para eles próprios e isso acaba por pesar muito sobre as crianças. Uma prova de aferição não é mais do que um teste que os alunos estão constantemente a fazer na escola", afirmou.
Para o psicólogo, é importante sublinhar que estes testes não têm nenhuma consequência para a avaliação das crianças. São os professores e os pais que se sentem testados com as provas de aferição, acabando por colocar uma pressão desnecessária sobre alunos e filhos.
"A escola esquece que nem sempre cumpre da melhor maneira a sua função e coloca a responsabilidade sobre as crianças. Os pais às vezes esquecem que gerem mal o dia a dia dos filhos e estão a exigir-lhes um bom desempenho", explicou.
Assim, "no meio deste ataque de nervos", as crianças ficam "ansiosas" porque começam a entrar num "filme onde são argumentistas, protagonistas e realizadoras".
Se Mariana e Rafael aparentam nervosismo, o mesmo não se passa com Beatriz, quase a fazer dez anos. A mãe, Grabriela, garante que a filha não se encontra "nada nervosa" na véspera da prova de Língua Portuguesa, sentindo apenas um "entusiasmo" pela novidade de alguns aspectos práticos.
"Está sobretudo excitada por ter de mudar de sala, com o tempo para a realização do teste, por ter de levar o bilhete de identidade. Ela não deu grande importância por saber que não conta para a nota", contou à Lusa, reconhecendo que gostava que Beatriz se tivesse empenhado mais na preparação.
"Não a vejo particularmente preocupada", acrescentou.
Depois de imprimir algumas das provas realizadas em anos anteriores para hoje as fazer com o filho Rafael, Raquel constata perguntas "demasiado fáceis" para alunos do 4º ano.
"É uma forma dos alunos brilharem para as estatísticas do Ministério da Educação", criticou a mãe.
Já Mariana, filha de Helena, disse à mãe que sexta-feira quer ir vestida de branco. "Porquê", pergunta a mãe. "Porque uma amiga minha diz que dá sorte", responde a filha.
MLS.
Lusa/Fim
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