domingo, 10 de fevereiro de 2008

A carta de Fátima Inácio Gomes

Boas! Deixo aqui a carta, que pretendo seja bastante esclarecedora, que enviei para vários figuras do meio cultural, político, jornalístico do país. Não me conformo em não fazer nada… isto é muito pouco, nada, atendendo à arrogância da senhora ministra, mas pelo menos, deito-me mais tranquila!
Enviei para o director do Expresso, J.N., Público, para a Inês Pedrosa (para ver se ela abre osolhos e não diz mais asneiras acerca dos profs),para o Pacheco Pereira, para o António Barreto, para o Marcelo, para um jornalista do Sol que um dia me contactou, para o Presidente da República… ainda procuro o mail do Manuel Alegre (que a ele ninguém o cala) e do Sousa Tavares (com o mesmo objectivo da Pedrosa).

Se pensares em mais alguém, avisa. Nunca será demais.

Fátima

Boa noite,

Peço-lhe, por favor, dedique uns minutos à leitura desta missiva, já que é imperioso alertar o país para o estado calamitoso para o qual resvala, irremediavelmente, a Educação em Portugal, caso não se faça nada em contrário. Sou professora e não alimento nem a ilusão nem a pretensão de conseguir mudar muito. Mas V. Excia tem os meios para promover essa mudança.

Vai-me permitir a brutalidade do discurso, mas a situação é gravíssima, muito mais do que transparece tibiamente para o exterior, e este governo incompetente, cínico e prepotente vai conseguir destruir, não apenas o presente, mas, mais gravosamente, o futuro. E não, não estou a ser dramática. Antes estivesse.

1º ponto - Avaliação do desempenho dos professores.

Deve ficar bem claro que os professores querem ser avaliados! Cansados estamos todos de sermos enxovalhados em praça pública, porque nada no sistema distingue os maus profissionais dos bons! Não queremos é esta avaliação. E não é por capricho. É por ser abusiva, quase que surreal, de tão distante que está do conhecimento objectivo da realidade escolar. É despótica e brutal em todos os âmbitos, desde a planificação à implementação… chegando, neste caso, a ser perigosa. A incompetência e falta de lisura dos senhores que comandam o Ministério da Educação são gritantes e raia o patético. Não só insultam os professores, mas insultam (e é bom que todos se consciencializem disso) todos os portugueses, sempre que tentam passar a imagem de competência e profissionalismo.

Passemos aos factos, que poderá constatar com toda a facilidade (e nem os mencionarei todos, por serem tantos).

É pedido, digo, exigido, às escolas que, num prazo de 20 dias, a contar da data de publicação do Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro seja implementado o processo de avaliação dos professores com base em documentos, despachos, grelhas, recomendações que, decorridos quinze dias sobre aquele prazo, não foram tornados públicos:

· Faltam as recomendações do Conselho Científico (”os avaliadores procedem, em cada ano escolar, à recolha, através de instrumentos de registo normalizados, de toda a informação que for considerada relevante para efeitos da avaliação do desempenho. Os instrumentos de registo referidos no número anterior são elaborados e aprovados pelo conselho pedagógico dos agrupamentos de escolas ou escolas não agrupadas tendo em conta as recomendações que forem formuladas pelo conselho científico para a avaliação de professores.” - artigo 6º, ponto 1 e 2);

· sem aquelas recomendações, o Conselho Pedagógico não pode elaborar e aprovar os tais “instrumentos de registo”, nem se pode proceder à observação de aulas (artigo 17º);

· o regime da “observação de aulas” raia o absurdo, não porque os professores vejam inconveniente em serem observados (são-no, todos os dias), mas pela violência que representa para o avaliador. Invocando um Decreto Lei que, expressamente, referia que a redução dos departamentos para quatro apenas teria efeitos no concurso para titular (200/2007), o Ministério agora exige o que não é apontado neste despacho 2/2008: a reorganização dos departamentos naqueles quatro, instalando mais confusão num processo já de si tão escabroso e provocando a aglomeração grande número de docentes em cada um desses quatro departamentos. O meu, e do qual fui eleita coordenadora, entenda-se também, “avaliadora” (Departamento de Línguas), tem 31 professores. O das Ciências, por exemplo, tem quarenta e muitos professores. Como é possível que uma pessoa consiga assistir a três aulas por ano lectivo (neste ano, generosamente, apenas serão duas) de 30 professores? Além disso, como é possível acompanhar as planificações das aulas, diárias, desses trinta professores, reunir com cada um, definir objectivos, estratégias e instrumentos? Tudo isto mantendo um horário completo (sim, porque os avaliadores não têm redução alguma da sua componente lectiva, nem tão pouco qualquer alteração no seu salário, nem direito a horas extraordinárias), tendo o dever maior de cumprir com as suas turmas (que, para mim, é o realmente importante! Eu sinto-me responsável pelas minhas cinco turmas do 11º ano!), ao que acresce todo o trabalho burocrático e administrativo do Conselho Pedagógico, onde tenho assento e… as minhas próprias planificações! Sim, porque eu também serei avaliada, duplamente, como professora e como avaliadora! Poderei vir a tornar-me uma competentíssima avaliadora, mas, certamente, me tornarei numa pior professora. E isso é o que mais me angustia, porque eu gosto de dar aulas!

· é certo que no artigo 12º é apontada a possibilidade do coordenador “delegar as suas competências de avaliador noutros professores titulares, em termos a definir por despacho do membro do Governo responsável pela área da educação.”. Está bom de ver que… falta esse despacho.

· O que falta, por parte do Ministério, não se fica por aqui: falta o despacho que aprova as fichas de avaliação (artigo 35º), como falta o despacho relativo às ponderações dos parâmetros de avaliação (nº 2, artigo 20º), como falta o despacho conjunto de estabelecimento de quotas previsto no nº 4 do artigo 21º, como falta a portaria que define os parâmetros classificativos a realizar pela inspecção (nº 4 do artigo 29º), como falta o diploma que rege a avaliação dos membros dos conselhos executivos que não exercem funções lectivas (nº1 do artigo 31º).

· no artigo 8º pode ler-se: 1 — A avaliação do desempenho tem por referência: a) Os objectivos e metas fixados no projecto educativo e no plano anual de actividades para o agrupamento de escolas ou escola não agrupada; b) Os indicadores de medida previamente estabelecidos pelo agrupamento de escolas ou escola não agrupada, nomeadamente quanto ao progresso dos resultados escolares esperados para os alunos e a redução das taxas de abandono escolar tendo em conta o contexto socio-educativo.2 — Pode ainda o agrupamento de escolas ou escola não agrupada, por decisão fixada no respectivo regulamento interno, estabelecer que a avaliação de desempenho tenha também por referência os objectivos fixados no projecto curricular de turma.

Nada disto existia antes de 10 de Janeiro e não se altera o Regulamento Interno de uma Escola nem o seu Projecto Educativo, documentos estruturantes que envolvem a participação de todas a comunidade escolar (pais, professores, funcionários, alunos, autarquia) em 20 dias! A menos que se faça com a mesma rapidez, consistência e respeito pelos envolvidos com que o Ministério da Educação despacha leis.

2º ponto - Postura do Ministério da Educação

Creio que os aspectos já apontados seriam suficientes para traçar o negro perfil dos órgãos responsáveis pela área de educação, mas este Governo colocou a fasquia bem alta, daí que tenhamos notícia de algumas pérolas de… escapam-me já as classificações…. e que passo a enunciar (pelo menos, as que eu conheço pelos meios de comunicação social:

· Há dois dias atrás, a Sra Ministra respondeu aos jornalistas, a propósito do, chamemos-lhe, mal-estar manifestado pelas escolas, com a candura que caracteriza o seu discurso, que estavam reunidas todas as condições para se proceder à avaliação do desempenho e que o Ministério daria todo o apoio necessário (não encontrei a citação exacta).

No dia seguinte, é comunicado, através do site do Dgrhe (http://www.dgrhe.min-edu.pt/), que “a contagem dos prazos definidos no artigo 24º do Decreto Regulamentar 2/2008 iniciar-se-á na data da divulgação na internet das recomendações do Conselho Científico para a Avaliação de Professores”. Então, não estava tudo a decorrer com normalidade? Até se perdoaria este “lapso” não estivesse o documento eivado de muitas outras arbitrariedades!

· As cerejas no topo do bolo, porque são duas, chegaram hoje com as afirmações do Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Educação, Jorge Pedreira: «Os conselhos pedagógicos podem produzir os seus instrumentos sem essas recomendações. Não é obrigatório que as recomendações existam. O decreto regulamentar diz tendo em conta as recomendações que forem formuladas. Se não forem formuladas…»,

(http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=77274)

Creio que nem será necessário comentar uma declaração deste tipo… diz na lei, mas se não aparecerem as recomendações…

Extrapolando: aqueles despachos em falta… se não aparecerem… as escolas improvisarão, que já vão tendo prática disso.

· A outra cereja prende-se com o tal “Conselho Científico”. Aliás, está prevista para hoje a apresentação das famigeradas “recomendações”. O grotesco desta aparente prova de competência está bem expressa em mais uma afirmação do Sr. Secretário de Estado Adjunto e da Educação, que refere que, estando “em funções há vários meses”, a presidente do Conselho Científico, esta elaborará as recomendações!

(http://dn.sapo.pt/2008/01/25/sociedade/ministerio_improvisa_solucoes_para_r.html)

Se isto não é um insulto a tudo o que são os princípios de um estado democrático, já não sei mais o que pensar!

Ora, lê-se no documento aprovado em Conselho de Ministros que regulamenta o Conselho Científico que “Este órgão consultivo será constituído por um presidente, cinco professores titulares em exercício efectivo de funções na educação pré-escolar ou nos ensinos básico e secundário, cinco individualidades em representação das associações pedagógicas e científicas de professores, sete individualidades de reconhecido mérito no domínio da educação e por três representantes do Conselho de Escolas (http://www.min-edu.pt/np3/1459.html).

· Por fim, o próprio Conselho Nacional de Escolas, criado para trabalhar em conjunto com o Ministério da Educação, levando para a mesa de trabalho a experiência de quem lida directamente com as escolas e seu funcionamento prático, tem feito várias recomendações às quais o Ministério não dá ouvidos

(http://jn.sapo.pt/2008/01/25/nacional/conselho_escolas_quer_adiar_avaliaca.html).

O que prova que este Conselho foi criado, apenas, para o Ministério poder invocar uma relação de lisura com as escolas que não acontece de todo. Em anexo, colocarei as propostas apresentadas por este Conselho.

3º e último ponto - Qualidade de ensino.

Este é, a meu ver, o aspecto mais terrível desta arquitectura que o Ministério montou. Custa-me, na verdade, acreditar que pessoas de bem ajam com tanta leviandade e desprezo pelo futuro do país e é esta a razão da premência do meu apelo:

- esta torrente de grelhas, recomendações, parâmetros, planificações diárias, instrumentos, registos e afins esgotarão os professores num trabalho inglório e improdutivo, pois não estarão a trabalhar para os alunos, mas para a sua avaliação;

- o mais grave, ainda, gravíssimo! A subordinação da avaliação do desempenho dos professores e a sua progressão na carreira ao sucesso dos alunos (artigo 16º):

5 — Para o efeito da parte final do número anterior o docente apresenta, na ficha de auto -avaliação, os seguintes elementos:

a) Resultados do progresso de cada um dos seus alunos nos anos lectivos em avaliação:

i) Por ano, quando se trate da educação pré -escolar e do 1.º ciclo do ensino básico;

ii) Por disciplina, quando se trate dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário;

b) A evolução dos resultados dos seus alunos face à evolução média dos resultados:

i) Dos alunos daquele ano de escolaridade ou daquela disciplina naquele agrupamento de escolas ou escola não agrupada;

ii) Dos mesmos alunos no conjunto das outras disciplinas da turma no caso de alunos dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário;

c) Resultados dos seus alunos nas provas de avaliação externa, tendo presente a diferença entre as classificações internas e externas.

Tenho a certeza que reconhece de imediato o perigo que isto constitui… nada mais fácil para um professor que “produzir” sucesso. Aliás, estou convicta de que é essa a intenção deste Governo, para assim poder ostentar, com orgulho, as grelhas e os números e o inquestionável sucesso destas medidas… porque os números estão acima de qualquer dúvida!

E, na verdade, tudo estará podre, sob essa capa de êxito. O sistema público de ensino passará a ser um faz-de-conta, um recinto para entreter os jovens… aqueles que não puderem pagar uma escola privada, que lhes garantirá um ensino exigente.

E não olhe com esperança para a alínea c!… a avaliação externa só existe em algumas disciplinas e em alguns níveis de ensino. Como vê… mais um factor de desigualdade entre professores: uns nunca passarão por essa bitola e serão, com toda a certeza, professores de sucesso! E já nem falo do que é subordinar a qualidade do desempenho de um professor à heterogeneidade das turmas que encontra (ambiente familiar e social, motivações pessoais, capacidades cognitivas, enfim, muitos dados em jogo). Eu já tive boas, menos boas e más turmas: será que a minha competência varia tanto?

Peço perdão pela extensão desta carta, mas o problema é por demais sério e, infelizmente, as arbitrariedades são tantas que não as consegui reduzir a menos.

Creia-me, preocupada, mas esperançosa, no poder que a comunicação social exerce sobre a opinião pública. Neste momento, o problema não é só dos professores, é do país inteiro. É uma cidadã, professora e mãe que lhe escreve.

Com elevada estima,

Fátima Inácio Gomes

Professora de Português do quadro da Escola Secundária de Barcelos
Coordenadora do Departamento de Humanidades
Coordenadora do Departamento de Línguas (de acordo com o decreto 200/2007)

9 comentários:

Anónimo disse...

Nada do que aqui é dito traz algo de novo à luta diária que os sindicatos da FENPROF têm encetado desde há muitos anos para cá, com entrega e sacrifício de muita gente em prol dos professores.

Todas as reinvindiações aqui descritas têm sido repetidamente marcadas pelos sindicatos, ano após ano, mês após mês, governo após governo, greve após greve.

A desintegração do movimento de luta profissional e a desvalorização dos sindicatos apenas dá trunfos a quem manda e a quem trata mal os professores.

Os sindicatos são organizações democráticas. Quem não concordar com a linha de actuação seguida, submeta uma lista a votação e altere essa linha. Ah! é claro, é preciso ir a reuniões à noite, ocupar tempo livre com trabalho em benefício dos colegas, organizar propostas, rever textos e artigos, dinamizar acções, prescindir de sábados e domingos para organizar a acção... e isso dá trabalho, pois é!

Mas os sindicatos são a nossa plataforma de representação profissional, quer gostemos quer não, e podemos sempre, em qualquer reunião, convenção ou congresso, fazer vingar o nosso ponto de vista. Se houver mais gente a pensar como nós, a nossa lista ganha... se a maioria assim não entender... é a democracia... O que não faz muito sentido é fazer constantes queixas - fazendo, aliás, o jogo dos governantes - e ataques a sindicatos, sem fazer um esforço efectivo de mobilização para o melhor funcionamento destes.

É o próprio governo que sugere a criação de formas de representação alternativas aos sindicatos. Porque será? Quer, como é óbvio, tirar aos sindicatos o poder de negociação, colocando ao invés, associações do carácter da que detém este blog, pulverizando a luta reivindicativa em vários pequenos pólos, tirando-lhe a força política e mediática. Na prática, anulando a contestação.

Estou certo que os mentores deste blog de Professores Revoltados têm a melhor das intenções. É, no entanto, imperativo consciencializarem-se que, ao causarem brechas e divisões na luta a partir de dentro, estão a entregar toda a decisão dos governantes e aos detentores de poder, enfraquecendo a própria posição dos professores.

João Pedro Delgado

GeoDiver disse...

Meu caro.

A sua intervenção é maioritariamente caricata. Está a falar do quê? Ahhhh de divisões!!! Deve ser por isso que existem tão poucos sindicatos.... O "vosso" exemplo diz tudo!!! Vocês próprios, os sindicalistas, iniciaram a divisão, lá diz o ditado, "dividir para reinar", e é assim que o ME tem reinado, porque vocês, que falam por nós, estão divididos.
Sempre acreditei, e continuo a acreditar, que a força dos sindicatos é necessária. mas aqui há um valor mais alto (a meu ver) que ultrapassa a linha de acção dos sindicatos, que é a qualidade do Ensino. Não existe nenhuma entidade que defenda a qualidade do ensino. As aberrações que o ME "obriga" os docentes a fazer em relação às praticas lectivas é coisa de traidores à nação.

O seu discurso é típico de quem está "afastado" da realidade, tal como o pessoal do ME. Essas horas que afirma de "tempo livre" ... já o eram!!! Diga-me, as acções de formação que temos de fazer, são feitas a que horas? As tretas de relatórios são feitas a que horas? as inúteis reuniões intercalares são feitas a que horas? a preparação de aulas são feitas a que horas? a correcção de TPC's, testes, fichas, etc, são feitas a que horas? AS reuniões de departamento, de grupo, de áreas-projecto, etc... são feitas a que horas? E mais importante que tudo isto (mais importante ainda que fazer o jantar, arrumar a cozinha, ir à praça ou supermercado, etc...), o tempo para dedicarmos aos nossos filhos (pois é...os professores também têm filhos/alunos - coisa que as associações de pais parecem desconhecer....), às nossas esposas (os), fazemos a que horas?

Vocês, pelos vistos, continuam a pensar como o ME e a "opinião pública" (a tal que a Milú ganhou...), os professores têm montes de horas livres.... e como tal, poderiam dedicar parte delas em reuniões sindicais. Antes, as reuniões eram feitas durante o horário de expediente... e mesmo assim tinham fraca adesão....imagino agora! Estão a sentir os "clientes" a fugirem e como tal, estão com medo da vossa própria existência. C'est la vie!!! vão-se habituando!

Anónimo disse...

Sou sindicalizado num sindicato da FENPROF, continuarei a sê-lo aconteça o que acontecer, e vejo com bons olhos o surgir de outros movimentos que ilustrem a indignação dos professores perante o ME e também alguma frustração relativamente aos sindicatos.
Não acho que estes estejam a ser capazes de responder aos novos desafios deste maquiavélico governo sócrates. Não estão a conseguir aglutinar a revolta que perpassa pelas escolas que são sítios plurais e não feudo de qualquer sindicato ou movimento. Digamos que a revolta que se vê, não se traduz em actos públicos/cívicos que ilustrem esta indignação generalizada. Todos cumprimos os novos regulamentos é certo, mas quase nenhuns o fazem com convicção e ninguém com entusiasmo. Num País democrático isto faria qualquer governante parar para reflectir...

Não me parece aceitável que se não inove nas formas de luta que temos realizado: grevezitas (muitas decididas sem ouvir os professores...) que enchem de satisfação o ministro das finanças e que não têm, infelizmente, a adesão da maioria, ou por acreditarem que são ineficazes (por serem curtas e pouco participadas)ou simplesmente por não poderem prescindir do salário que perdem.
Gostaria que a fenprof, maioritária representante dos profes, tivesse uma postura menos arrogante para com outras pequenas organizações e movimentos que enriquecem (é certo que também dividem...) o universo da contestação.
E com eles trabalhasse, sem hostilidades e paternalismos, como o que atravessa o post que me antecede.

Anónimo disse...

Quando disse "o post que me antecede"
queria significar o do João.

Jorge Gouveia disse...

Já desconfiava que os sindicatos depressa se prepararariam para "cavalgar a onda". Lembro que aquando do movimento dos professores desterrados estes mesmos sindicatos cantaram vitória mas o trabalho foi dos soldados que durante largos meses correram tudo quanto eram instituições para corrigir a injustiça.
Relativamente á manifestação de indignação da colega Fátima apenas tenho a dizer que se não nos unirmos agora, piores afrontas nos irão atingir.
Lutemos e façamos greve por razões muito válidas.

Fátima Inácio Gomes disse...

O Jorge tem toda a razão, por isso aproveito para deixar aqui o mail que estou a enviar aos meus colegas, que vai, precisamente, nesse sentido:

Vivam todos!

Chegou o momento de encostarmos as lamúrias a um canto e partirmos para a manifestação concreta e audível daquilo que pensamos.
No passado sábado, dia 9 de Fevereiro, aceitei o desafio dos ProfsEmLuta e fui às Caldas da Rainha. Estiveram presentes 88 professores.... daqui do Norte, estava eu e um colega de Famalicão (E.B.2,3 Ribeirão) que representa um grupo de professores que também já se estão a organizar (http://movimentoprofessoresrevoltados.blogspot.com).

Foi bom sentir que, se alguma coisa de positivo que este Ministério fez, foi unir os professores. Por isso mesmo temos de mostrar essa força, sem estarmos afectos a partidos, nem a compromissos específicos, nem a agendas mais ou menos claras. Apenas se pretende mostrar a força e a preocupação dos professores portugueses quando o que está em causa vai muito além dos interesses profissionais desta classe, atingindo já o domínio do interesse geral - a defesa do ensino público nacional.

Concordou-se, nesta reunião, na necessidade de se criar uma associação mais sólida, sem outros interesses além da defesa dos professores e do ensino público. Na próxima reunião serão aprovados os seus estaturos e os seus princípios e "exigências". Conta-se, nessa data, que esteja presente a comunicação social, para que a mensagem, efectivamente, passe. Também não se pretende combater contra os sindicatos. No fundo, estaremos todos a lutar contra o mesmo e quantas mais "armas" e "combatentes" melhor. Nós agiremos guiados, apenas, pelo nosso interesse, consciência e vontade.

O meu convite e proposta é a seguinte... esta reunião realizar-se-á no próximo doa 23 de fevereiro, sábado, de manhã, nas Caldas da Rainha (por uma questão de centralismo geográfico). Propunha (eu trato disso) que fossemos uma grande comitiva do Norte e, para isso, pretendo contactar uma empresa de transportes: alugávamos uma camioneta e assim seria mais cómodo e barato para todos.

É deveras importante que, neste momento, façamos algo efectivo. Participa! Vamos unir-nos, por fim.

Faz-me chegar a tua intenção de participar... e passa este mail por outros colegas, mesmo que não sejam da zona de Braga. Poderão fazer o mesmo a partir das suas escola.

A minha ideia é juntar professores da zona de Braga e arredores. Se me enviarem o nome, eu vou fazendo uma lista... depois avançarei com pormenores. O meu mail: aetheria11@gmail.com

Abraços e beijos

Fátima Inácio Gomes
Escola Secundária de Barcelos

Anónimo disse...

http://movimentoprofessoresrevoltados.blogspot.com/

Confesso que gosto do Blog e digo mais: penso que te grandes potencialidades. Penso que a partir do Blog poderiamos criar o que nos faz falta, muita falta. Sabem o quê? uma ORDEM DE PROFESSORES.
Começavam por mudar o nome para uma designação mais digna, capaz de ter impacto junto da opinião pública. PU (Professores Unidos)ou OPD (Ordem dos Profissionais Docentes)...
Não se trataria de mais um Sindicato, mas de uma Associação... ou melhor de uma Ordem mesmo a ser constituída quanto antes.

Porquê uma Ordem? Por várias razões:
- temos uma Pró-Ordem, que ainda não passou disso: Pró. Onde é ela anda? Neste momento crucial da nosa vida profissional não se vê, não se ouve, NADA!
- é um momento crucial em que os Professores precisam de apoio. A classe está mais dividida do que nunca. Uma iniciativa deste tipo teria a maior das adesões, porque os professores precisam de acreditar e de ver "futuro".
- neste momento precisamos de alguém que na opinião pública explique cientificamente os erros que se estão a cometer.
- precisamos urgentemente de um Organismo independente dos Partidos políticos, que ajude a definir quais as tarefas próprias da Profissão Docente e que defenda o professor do exterior, nomeadamente do poder polítivo.
- para além disso, essa iniciativa causaria impacto, por ser algo de novo a surgir na Comunicação Social e com a apoio de muitos descontentes.

Eu tenho conhecimentos para técnicos, graças a um Mestrado que fiz sobre estas assuntos. Falta-me a liderança (confesso)e conhecimentos juridicos para pôr em marcha este processo.
Precisariamos de um Jurista, de um Professor Líder e o resto decorria com a naturalidade própria deste momento. Sabem porquê?
Porque estamos a precisar de uma VOZ, alguém que consiga chegar aos Media para derrubar este atropelo violento aos Direitos laborais e à escola pública.
E quanto antes, antes que seja tarde! Esta Avaliação está ai á porta e se não agirmos concertadamente, perdemos tudo o que construímos ao longo destes tempos.
Por uma Escola Pública e Democrática.

Vargas P.T.

11 de Fevereiro de 2008 13:30

Anónimo disse...

Perante a carta e alguns dos comentários facilmente se percebe porque a nossa classe esta como está "eles" dizem "baixem as calças" e nós ainda fornecemos a chibata...
Se todos os professores se unissem... Imaginem, quando foi o concurso para titular se nenhum professor deste pais tivesse concurrido... o que faria o ME ou a "dita cuja"??? noutro país teria de se ter demítido!!! imaginem que aquando da introdução das aulas de subestituição, nenhum professor marcasse faltas aos alunos a estas aulas, e os alunos tomassem conhecimento desta informação...
Agora com a nossa avaliação proponho que sigamos as indicações do ME e da "dita cuja" para a avaliação dos alunos aplicando a mesma lógica e grau de exigencia, alem disso podemos seguir tambem a lógica muito utilizada pelo ME que é a seguinte "Se está escrito e no papel então é porque é verdade" ir assistir a aulas dos colegas? não nunca ! Ainda vão dizer que aproveitamos isso para por a conversa em dia uns com os outros ... é melhor por no papel, a dizer que sim, que foi, e que a avaliação é de EXELENTE... para todos os professores deste país!!! Mais uma vez o que fará o ME perante um facto destes?????
Precisamos é de nos unir já que os sindicatos não os têm no lugar!!!
Se tivessem feito uma greve ás avaliações em junho passado ou se tivessem decretado uma greve de jeito de pelo menos quinze dias...
isso sim teria feito mossa
Mas não nos devemos esquecer que temos mais poder do que um neurocirurgião, porque podemos influênciar cerca de trinta cérebros ao mesmo tempo enquanto um neurocirurgião ....Há já algum tempo que os meus alunos acreditam que o PS é o próprio "DEMO" o "PAPÃO" dos papões, quando chegarem á altura de votar acho que PS não vai ser....

Anónimo disse...

orlando, acredita que foi a sua última frase que me bateu forte?!!!
nunca pensei nisto!
nunca me tinha lembrado que afinal nós professores PODÍAMOS TER REALMENTE MUITA FORÇA! e temo-la.

estamos é a passar uma fase de divisão, de descrédito. estão até a fazer com que deixemos de acreditar em nós próprios. não nos podemos deixar anular desta maneira. tenho esperança que esta fase vai passar, mas entretanto parecemos abelhas desorientadas a esvoaçar em todas as direcções, a quem se lhes fechou a colmeia!

passámos demasiado tempo preocupados com a nossa rotina, no dia a dia do ensino-aprendizagem e da escolha das melhores estratégias para conseguir melhores resultados com os nossos alunos. preocupámo-nos em acompanhá-los, a eles, às novas tecnologias, às suas famílias cada vez mais desestruturadas. preocupámo-nos em ensinar as famílias dos nossos alunos a valorizar a escola. preocupámo-nos com as dificuldades económicas dos nossos alunos, que chegam muitas vezes sem livros, com fome, com tristezas da vida e com a cabeça cheia dos problemas que têm em casa. preocupámo-nos a colmatar falta de pai, de mãe, de carinho, de alguém que os oiça. preocupámo-nos com que gostassem da escola e que fizessem dela a sua casa, porque muitos preferem até mais lá estar do que na sua própria casa. preocupámo-nos em adaptar programas, currículos, espaços, inventar equipamentos e recursos que nos deviam ser postos à disposição por quem governa, para melhorar o ensino. preocupámo-nos com a nossa formação, nos cursos e acções promovidos por outros professores, como nós, e na procura constante da actualização dos conhecimentos.

esquecemo-nos de nós próprios.
nunca nos passou pela cabeça que um dia podíamos chegar á NOSSA colmeia e ela não estar lá! em vez disso encontramos um maço de leis que nos diz que estamos todos errados, que não queremos trabalhar e que nos temos que organizar à volta dessa papelada e construir NÓS PRÓPRIOS uma nova colmeia baseada num projecto que nos é enviado tipo puzzle, onde faltam bocados, onde nada encaixa. Prazo – 20 dias. Objectivo – melhorar a NOSSA avaliação. Actividades – passarmos o resto da vida a produzir papelada sobre nós próprios. Finalidade – 2 ou 3 subirem não se sabe bem para onde, mas continuarem sempre todos a produzir cada vez mais papelada e “bem organizada”, nada de dossiers com papéis desarrumados (li eu algures numa peça do puzzle que nos enviaram).

e ninguém nos perguntou como é que poderíamos melhorar a nossa avaliação. e ninguém quer saber como é que afinal um professor pode ser melhor professor. e ninguém se preocupa para que serve um bom professor. ou quando é que afinal se atinge o patamar de bom professor. só sabemos que bons professores só podem vir a ser 2 ou 3. os outros não chegarão a ser bons. ficam pelo suficiente, porque não há vaga. (deus queira que dos meus 3 filhos haja algum que consiga um dia apanhar um desses bons professores – gostava que fossem bem preparados na escola onde andam).

ninguém nos perguntou como é que afinal ficam os alunos, enquanto os professores andam a produzir relatórios e a organizar os seus próprios dossiers. ninguém quer saber disso. é preciso é chegar ao fim de cada ano com um bom número de alunos aprovados. se sabem ou não, isso não interessa nada, até porque ainda ninguém se debruçou muito sobre o que é que se deve aprender neste momento numa escola.

vamos entrar na era do “digo que faço”, “provo que faço”, “escrevo o que faço”, “organizo o que faço” “auto-avalio o que faço”, “avaliam o que eu faço” “avalio o que ele faz” “avaliam o modo como eu avalio o que ele faz” … mas afinal QUANDO é que eu faço???

O QUE É QUE EU FAÇO?!

só espero conseguir tempo para de vez em quando dar uma espreitadela e ver o que é que os meus 3 filhos fazem. porque se na escola onde eles andam lhes calhar um dos tais bons professores, daqueles que têm a papelada muito organizadinha e que escreveram sempre tudo o que fizeram, tenho quase a certeza que não vão ter muito tempo para olhar e fazer por eles.