quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Inaplicável

PEDRO VILELA MARQUES

in:DN de 26 de Novembro 2008

Professores dos cursos do recorrente foram incluídos na avaliação de desempenho do ensino regular, mas perguntam como podem ser avaliados por parâmetros que não se aplicam ao tipo de formação dada a alunos adultos. Questão sem resposta por parte do Ministério da Educação

Sindicatos defendem fichas adequadas

Isabel (que prefere resguardar-se de possíveis pressões atrás de um nome fictício) dá aulas a adultos do ensino recorrente na Escola Secundária Padre Alberto Neto, em Queluz. A leccionar apenas nos agora chamados Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA), a professora questionou a escola sobre os critérios que vão reger a sua avaliação de desempenho. A resposta recebida aplica-se a cerca de dez mil docentes de Centros de Novas Oportunidades (CNO) e EFA: os conselhos executivos não sabem que instrumentos utilizar na avaliação destes professores, por não reunirem muitos dos parâmetros avaliados no ensino regular.

Escolas e professores têm as mesmas dúvidas: "Como aplicar o critério das notas dos estudantes contarem para a avaliação dos professores, quando os alunos dos EFA não têm notas, mas apenas o reconhecimento de competências", interroga-se Isabel. Mas a professora da Secundária Padre Alberto Neto questiona também de que forma se vai "avaliar se os alunos cumprem o programa, quando não existem programas no ensino recorrente". Ou então, qual será, no futuro, o peso do abandono dos alunos na avaliação dos docentes do recorrente, "quando sabemos que são alunos em horário pós-laboral, que estudam em condições difíceis". Dúvidas que o DN tentou esclarecer junto do Ministério da Educação, de quem não recebeu resposta até ao fecho desta edição.

Ao que o DN apurou junto dos sindicatos do sector, além destas colocam-se outras questões em relação aos professores que dão aulas nos CNO. "Não é fácil adequar o sistema de avaliação regular a docentes que não têm turmas constituídas e que não podem estabelecer objectivos sobre quantos alunos vão passar, por não saberem durante quanto tempo lhes vão dar aulas", argumenta António Anes, sindicalista da Fenprof que acompanha a área.

Todas estas questões já tinham sido colocadas pelos sindicatos nas reuniões de acompanhamento da aplicação do processo. "Se a aplicação do modelo já é difícil no ensino regular, as dificuldades avolumam--se na avaliação dos docentes dos CNO e EFA, embora tudo aponte que estes professores tenham de ser avaliados pelo mesmo modelo", reconhece António Anes. O sindicalista conclui que a avaliação destes professores só será possível se "forem criados indicadores, instrumentos de recolha e fichas adequadas ao ensino recorrente". Medidas que ainda não foram concretizadas pelo Ministério da Educação.

"À luz destas informações, só podemos dizer que não vamos poder ser avaliados, com as consequências inerentes". Isabel resume, desta forma, o sentimento da maioria dos cerca de dez mil professores que leccionam nos Cursos de Novas Oportunidades e nos de Educação e Formação para Adultos.

Sem comentários: