quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Não Há Mérito Sem Diferenciação?

A frase, na forma afirmativa, quase imperativa, repetida por Fátima Campos ferreira na parte final do debate, mais do que a encomenda ou convicção, soou-me a lugar-comum repetido mecanicamente sem recurso a qualquer reflexão ou demonstração.

Não há mérito sem quotas?

Desde quando?

Desde quando o meu (ou o de qualquer outro docente) mérito enquanto profissional depende de um mecanismo que me é exterior?

Desde quando as minhas qualidades pedagógicas dependem de um decreto regulamentar’

Desde quando o meu desempenho em aula, na sua preparação ou reavaliação, decorre de um delírio de um secretário de estado ou ministra de ocasião?

Não, cara Fátima e outras pessoas que assim pensam: o mérito é independente da exist~encia de quotas ou não.

Porque vejamos então o seguinte paradoxo: de que interessa a uma escola recrutar os melhores docentes, reunir o grupo de mais excelentes profissionais, se depois apenas 1 em 4 ou 1 em 2 tem a possbilidade de ter tal reconhecimento?

O que está aqui em causa é a questão da diferenciação, conceito sem nenhum valor acrescentado do que o descritivo.

A diferenciação é um instrumento para fazer uma escala em termos de mérito relativo. Não de detecção e recompensa do mérito absoluto.

A diferenciação pode mesmo ser um mecanismo extremanete perverso e gerador de injustiças.

Num grupo disciplinar de 8 pessoas, por esta lógica só 2 podem ser muito boas ou excelentes, mesmo que 5 apresentem níveis de desempenho perfeitamente equivalentes. A diferenciação, introduzida à micro-escala dos departamentos e grupos disciplinares é uma ferramenta mais prejudicial do que vantajosa, pois induz más práticas de avaliação/classificação. Em grupos em que não se destaque ninguém de forma relevante há quem venha a ser classificado como excelente, pois «há quota», enquanto em outros há excelentes que ficam de fora, porque «não há quota».

Sem quotas não há mérito?

Sem diferenciação não há justiça na avaliação?

Muito pelo contrário, muito pelo contrário. Só quem é mentalmente preguiçoso e dogmaticamente preconceituoso pode aceitar isso.

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