domingo, 9 de novembro de 2008

19 de Janeiro é muito tarde, e só um dia?

Ano eleitoral usado para pressionar

Sindicatos marcaram greve para o próximo dia 19 de Janeiro "O que vai dizer a sr.ª ministra, no final do ano lectivo e a três meses das eleições, a cem mil professores? Que não vão progredir na carreira?" Foi esta a interrogação deixada no ar ao DN por Mário Nogueira, porta-voz da Plataforma Sindical, assim que a cabeça da manifestação atingiu a Praça do Marquês de Pombal, já a noite caíra. Para trás, avenida abaixo, uma multidão exigia, entoando palavras de ordem como "suspensão da avaliação, já!" o fim do actual modelo de avaliação de desempenho. Enquanto na Praça do Comércio, a dois quilómetros e meio de distância, muitos professores ainda se acotovelavam para conseguir entrar no cortejo.


Da maior manifestação de sempre de professores, a terceira dirigida contra Maria de Lurdes Rodrigues - e na qual os sindicatos estimam que tenham estado 85% dos profissionais da classe, ou seja, cerca de 120 mil professores (em Março foram cem mil) - saiu um sinal claro: os professores discordam deste modelo de avaliação e estão dispostos a endurecer a luta para o travar. Mesmo que isso signifique não ser avaliado e não progredir na carreira. Porque, dizem, "o modelo é burocrático, injusto e tira tempo à missão principal: ensinar". E ameaçam, entre acusações de "intransigência e arrogância" do Governo: "Se não o suspendem, suspendemos nós." Por isso, na resolução votada no final do protesto, já os milhares de manifestantes se aproximavam do palanque montado na Praça do Marquês, o apelo foi para que as escolas recusem concretizar qualquer actividade que conduza à instalação ou desenvolvimento do modelo e para que os professores não se acanhem. Repto a que os 120 mil manifestantes responderam com bandeiras e braços no ar e que Mário Nogueira retribuiu com palavras de encorajamento: "Sejam corajosos e coerentes."

"Não há abertura nem entendimento possível, nem espaço para meias-medidas", assegurava o porta-voz do protesto, ameaçando com mais manifestações, protestos descentralizados que arrancam já no final do mês, e uma greve nacional no dia 19 de Janeiro, dois anos após a publicação do Estatuto da Carreira Docente, alvo de fortes críticas.

Assim que desceu do palanque na Praça do Comércio, já bem depois da hora marcada, o rosto mais mediático do dia apanhou um rebuçado de mentol que uma anónima lhe estendeu e correu durante 15 minutos, furando a multidão, para encabeçar a linha da frente que já se encontrava a meio da Avenida da Liberdade. A seu lado, outros dirigentes sindicais seguravam a faixa negra com o mote do protesto: "Da indignação à exigência. Deixem-nos ser professores", esboçando sorrisos emocionados e orgulhosos perante tamanha mobilização.

As palavras proferidas pela ministra, ainda a meio da tarde no Porto, caíram mal no meio do protesto e agitaram ainda mais as hostes. Foi lida pelos dirigentes sindicais como uma provocação. "Só há um caminho que é a suspensão e os professores vão usar todas as estratégias para que a avaliação seja suspensa", reagia João Dias da Silva, da FNE. E se, acrescentava Mário Nogueira inflamando o discurso, "num dia como este, em que os professores estão na rua, a ministra continua a dizer que não queremos ser avaliados, é porque não tem vergonha na cara! E não tem capacidade democrática para entender uma manifestação destas".

É neste ponto do braço-de-ferro que os sindicatos prometem endurecer a luta que extravasa o modelo de avaliação. Será contra o estatuto da carreira docente, o novo regime de concurso de colocação de professores, o modelo de gestão das escolas e os horários que os professores estão a cumprir.

O primeiro protesto irá já para a rua na última semana do mês, com manifestações distritais: no Norte, a 25; no Centro, a 26; na Grande Lisboa, a 27; e no Sul, a 28. Os professores deixarão de estar representados na comissão paritária de acompanhamento da avaliação, "por ser essa a única posição coerente com o apelo de suspensão". Serão ainda solicitadas reuniões aos grupos parlamentares e à Comissão Parlamentar de Educação e Ciência. Os sindicatos pediram ainda aos professores que esclareçam a sua posição perante os pais, com o apoio dos quais esperam contar numa futura marcha. A próxima acção de luta é encabeçada pelos movimentos independentes e acontece já no sábado.

http://dn.sapo.pt/2008/11/09/sociedade/ano_eleitoral_usado_para_pressionar.html

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