Neste momento, outro fenómeno se começa a insinuar, subrepticiamente, tristemente, lamentavelmente. Muitos se ergueram e se erguem, num movimento crescente, contra um modelo que consideram iníquo, injusto, desprestigiante para os professores e para as escolas. Muitos já não se limitam a estender a mão, pedindo a suspensão ao desdenhoso ministério, e correm riscos: recusam sujeitar-se a esta avaliação, sacrificam-se a ter um insuficiente e verem comprometido o seu investimento de anos na carreira, correm o risco de sofrer um procedimento disciplinar, se a situação se extremar. E tudo isto porquê? Porque lutam por uma causa, uma causa comum. Contudo, há muitos professores que não arriscam tanto… Medo? Prudência? Desesperança? Seria muita arrogância minha julgá-los. A minha cultura democrática e o meu sentido da decência não me permitem fazê-lo. Mas se alguns desses professores agem desse modo por já avaliarem, velhacamente, a comodidade de um processo de avaliação sujeito a cotas, em que muitos dos potenciais “concorrentes” não entram na corrida, aí já não há sentido de decência ou de cultura democrática que me cale. Quando tantos se sacrificam pela dignidade de TODOS…
Mas, que estejam alerta. Estes abutres do sistema cairão com o sistema. Parafraseando o Padre António Vieira: Considerai, pegadores vivos, como morreram os outros que se pegaram àquele peixe grande, e porquê. O tubarão morreu porque comeu, e eles morreram pelo que não comeram. Pode haver maior ignorância que morrer pela fome e boca alheia? Que morra o tubarão porque comeu, matou-o a sua gula; mas que morra o pegador pelo que não comeu, é a maior desgraça que se pode imaginar! (in Sermão de Santo António aos Peixes, cap.V).
Fátima Inácio Gomes
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