sábado, 15 de novembro de 2008

Professores recusam «chantagens» numa tarde de lenços brancos

Milhares de professores marcharam, este sábado, em Lisboa, uma semana depois da maior manifestação de sempre da classe em Portugal. Num protesto desvinculado de sindicatos, os seu organizadores foram recebidos no Parlamento pelo PSD, CDS-PP e BE e foi anunciado um encontro nacional de escolas em luta, para o dia 6 de Dezembro. Os professores dizem que não podem ceder a «chantagens» na luta contra a avaliação e o estatuto da carreira docente.

Alguns elementos da organização chegaram a avançar que a manifestação deste sábado teria mobilizado 25 mil professores. Mas as ruas apertadas ente o Marquês do Pombal o Parlamento terão viciado as contas. Nos números finais, a organização descia-os para «mais de dez mil», mais próximo da polícia, que cifrou «em cerca de sete mil» os manifestantes.

Assobios à porta de Sócrates

Números à parte, as palavras de ordem, assobios e lenços brancos foram as marcas do protesto, que começou a ganhar forma às 14h00 e arrancou mais de uma hora depois, com dois pontos de paragem a assinalar.

O primeiro foi o edifício onde vive o primeiro-ministro. José Sócrates, que, se estava em casa, pôde ouvir os apupos que lhe eram dedicados. Se tivesse ido à janela veria cartazes pouco simpáticos. «Política educativa do PSócrates = Fim do Ensino Público», lia-se num.

Dez minutos depois, repetia-se a agitação. Desta vez na sede do PS. Estava previsto um minuto de silêncio, mas voltaram assobios, pedidos de demissão da ministra Maria de Lurdes Rodrigues e um novo ingrediente: lenços brancos.

E foi com eles a acenar que a cabeça da manifestação chegou, pouco antes das 16h, ao Parlamento. Nesta altura, Ricardo Silva, da Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino (APEDE), que com o Movimento Mobilização e Unidade dos Professores (MUP) organizou a marcha, dizia que seriam 25 mil os professores. Pouco depois a polícia apontava «cerca de 7 mil». No final dos discursos, Mário Machaqueira, da APEDE, baixava a cifra. «Estarão aqui mais de dez mil pessoas».

Encontro nacional

Este docente descreveu disse que este protesto «demonstra que os professores de forma espontânea e auto-organizada sabem vir para a rua fazer ouvir a sua voz» e anunciou que a próxima acção está prevista para 6 de Dezembro, em local hora determinar, mas com Coimbra como sítio provável. «Vamos organizar um encontro nacional de escolas em luta», explicou.

«Fundamental é que se mantenha a resistência dentro das escolas, que os professores não cedam um milímetro, que sejam determinados e que não aceitem qualquer tipo de chantagem», referiu.

Em seguida, os representantes dos movimentos foram recebidos pelos grupos parlamentares do PSD, CDS e BE. Sábado pode ser um dia anormal para receber manifestantes, mas todos os deputados disseram que o estado da educação em Portugal o justifica.

Um sábado parlamentar

«Há muito tempo que não se via esta anormalidade de ter desde o Partido Comunista à Conferência Episcopal de acordo que este modelo de avaliação dos professores não serve a escola», disse o social-democrata José Eduardo Martins, revelando um receio que lhe foi transmitido: «Manifestaram-nos uma preocupação, que nos suscita o maior respeito, de que haja perseguições nas escolas a quem não está a implementar este modelo de avaliação».

Já Pedro Mota Soares, do CDS-PP, sublinhou que as escolas necessitam de «estabilidade». «O CDS já questionou a lógica deste modelo de avaliação, que põe os professores, não nas salas de aula, mas sim a fazer relatórios sobre o trabalho dos colegas», apontou.

Cecília Honório, do BE, disse que «a luta tem de continuar. «Estas medidas que perturbam gravemente o quotidiano das escolas têm de ser radicalmente alteradas», salientou, referindo-se à avaliação de professores e ao estatuto do aluno.

Os restantes partidos também estão dispostos a ouvir os professores. O PS já na segunda-feira.

http://diario.iol.pt/sociedade/manif-manifestacao-professores-docentes-parlamento-iol/1013609-4071.html

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