quarta-feira, 16 de abril de 2008

Plataforma diz que perto de 90 por cento dos professores apoiaram entendimento com ministério

Quase noventa por cento dos cerca de 50 mil professores que foram consultados ontem pelos sindicatos apoiaram o entendimento alcançado com o Ministério da Educação no âmbito da avaliação de desempenho, revelou hoje a plataforma sindical que representou os docentes nas discussões com a tutela.

Em conferência de imprensa, Mário Nogueira, porta-voz da plataforma que reúne todos os sindicatos do sector, adiantou que a moção que previa a ratificação do entendimento estabelecido com o ministério foi discutida em mil agrupamentos de escolas, tendo sido aprovada em 89 por cento dos estabelecimentos de ensino.

Com estes resultados, os sindicatos assinam amanhã uma declaração conjunta com a tutela, na qual se estabelece que a avaliação avança este ano lectivo apenas para os professores contratados e para os docentes dos quadros em condições de progredir de escalão, baseando-se exclusivamente em quatro critérios, aplicados de forma uniformizada em todas as escolas.

A ficha de auto-avaliação, a assiduidade, o cumprimento do serviço distribuído e a participação em acções de formação contínua, quando obrigatória, serão os únicos parâmetros a ter em conta, sendo que as classificações de "regular" e "insuficiente" só terão efeitos negativos na carreira se forem confirmadas na avaliação realizada no próximo ano lectivo.

"Este entendimento não resolve os problemas da Educação, mas permite resolver alguns problemas concretos, no imediato. É pouco, mas desbloqueia a situação e, sobretudo, é a primeira vez em três anos que há alguma coisa", afirmou Mário Nogueira, salientando que foram conseguidos alguns "ganhos" e "mecanismos de protecção" dos docentes, no âmbito desta avaliação de desempenho.

No encontro com os jornalistas, a plataforma sindical reiterou diversas vezes que este memorando de entendimento "não é nenhum acordo com o Governo", uma vez que se mantêm divergências profundas quanto à política educativa do Executivo socialista, nomeadamente no que diz respeito ao novo Estatuto da Carreira Docente e ao próprio modelo de avaliação, que classifica de "burocrático e injusto".

Por isso, o porta-voz da plataforma sublinhou que "não vai acabar a luta" dos professores, embora a trégua com o ministério permita "salvar o terceiro período da instabilidade", uma vez que fica posto de parte o recurso à greve e a outras acções de luta que interfiram com as aulas.

Mantêm-se protestos das segundas-feiras

Apesar do entendimento com a tutela, os sindicatos decidiram manter os protestos regionais agendados para todas as segundas-feiras à noite, como o que esta semana reuniu perto de três mil docentes no Porto, alegando que estes se realizam fora do horário das escolas.

"É extremamente importante que estes protestos sejam muito participados para que os professores digam que estão satisfeitos com este entendimento, mas ainda estão profundamente insatisfeitos com a política educativa no geral", apelou Mário Nogueira.

Sendo a "trégua" apenas temporária, as organizações sindicais vão começar já em Maio a preparar a "estratégia de acção e de luta" para o ano lectivo 2008/2009, um ano bem mais sensível, já que coincide com as eleições legislativas.

Para definir esta estratégia, os sindicatos vão organizar no próximo mês plenários e reuniões nos estabelecimentos de ensino para consultar os docentes.

A consulta organizada ontem relativa à avaliação de desempenho contou com a presença de cerca de 50 mil professores, o que corresponde, aproximadamente, a um terço dos profissionais da classe. Destes, 86,2 por cento votaram favoravelmente a moção apresentada pela plataforma sindical, que foi assim aprovada em 89 por cento das escolas.

Lusa

3 comentários:

Maio disse...

Luta dos professores: balanço e perspectivas

Definitivamente, se foram 90 por cento de 50 mil os professores que ontem avalizaram a assinatura do acordo com o ministério, não se pode falar de uma maioria esmagadora, quer no universo de 145 mil docentes existentes em todo o país, quer tendo como referência os 100 mil que participaram na inesquecível Marcha da Indignação. Será uma maioria — porque em democracia só os votos expressos contam — mas apenas relativa, que não pode levar os dirigentes sindicais a ignorar o profundo descontentamento e a enorme desilusão de largos milhares de professores pelo magro resultado alcançado.
Nunca será demais repetir que o acordo (ou entendimento, se preferirem) apenas soluciona, no imediato e pontualmente, o problema dos docentes contratados ou em vias de progressão. Quanto ao resto, que é o principal, nada resolve. O Estatuto da Carreira Docente, fonte de todas as injustiças, continua intocável, e o modelo de avaliação do ministério, burocrático, subjectivo, iníquo e, por que não dizê-lo, antipedagógico, regressará já em 2008/2009. Isto para não acrescentar ainda o novo modelo de gestão e autonomia escolar, mais uma ofensa à dignidade dos professores e à sua importância na vida da escola.
Tenhamos, por isso, consciência que, apesar da grandiosa luta de massas que os docentes têm travado, mesmo que, por enquanto, não tenham sido derrotados, se alguém ganhou esta primeira batalha foi o governo: primeiro, porque resistiu à demissão, a certa altura inevitável, da incompetente Ministra da Educação; segundo, porque Maria de Lurdes Rodrigues pode repetir, até à exaustão, que a avaliação dos professores não foi suspensa. E, quando as eleições começam a emergir no horizonte, trata-se de uma preciosa vitória política de José Sócrates.
Não haja, portanto, quaisquer ilusões quanto ao entendimento — o essencial, ou seja, quase tudo, está por conseguir! Que ele não sirva para anestesiar os docentes! A luta recomeça em Setembro, mais intensa que nunca…
Até lá, é tempo de contar as espingardas e afinar a táctica. E continuar a protestar, às segundas à noite, para não se apagar a chama, como canta José Afonso.

em Cantigas do Maio

A luta continua!

Anónimo disse...

Seja qual for o numero de professores que se pronunciaram, divulguem escola por escola, os resultados. É o minimo que podemos exigir em democracia

Anónimo disse...

Na minha, por exemplo, a diferença de votos entre a concordância e a discordância do memorando foi de apenas um voto, sendo que as abstenções tiveram a mesma votação...
ESEN Viseu.
Estes números são muito importantes!
Não estou contra os sindicatos mas penso que foram enganados pelo ME.