quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sem Rumo

Este texto é sobretudo para aqueles que não são professores, porque não é novidade para aqueles que o são.

O Ministério da Educação (obcecado com o sucesso fictício dos resultados dos alunos, para o qual a avaliação do desempenho dos professores e o novo estatuto do aluno são dois instrumentos) esqueceu-se de resolver os problemas da escola.

Como eu sou coordenador do grupo disciplinar de Língua Portuguesa da minha escola, alguns colegas perguntaram-me como iríamos ensinar os alunos a escrever depois da assinatura do novo acordo ortográfico: passávamos a seguir o novo ou ensinávamos como até aqui? Se estamos a preparar alunos para o futuro, fará sentido continuar a utilizar a ortografia antiga?

Os manuais de Língua Portuguesa estão desactualizadíssimos, porque a adopção de novos manuais está suspensa há alguns anos, devido ao disparate que foi a TLEBS (Terminologia Linguística dos Ensinos Básico e Secundário), imposta em todo o país sem discussão e suspensa por ser tão confusa e ambígua como o novo modelo de avaliação dos professores. Na minha opinião, os erros da TLEBS deveram-se à tentativa de copiar e adaptar à Língua Portuguesa as gramáticas das línguas germânicas, esquecendo ou querendo apagar as nossas raízes latinas. Assim, no 7.º ano os alunos têm um manual de Língua Portuguesa com a nova terminologia linguística, mas esses alunos, quando chegam ao 8.º e ao 9.º, têm manuais com a antiga terminologia.

Em relação ao novo acordo ortográfico, ainda não chegaram instruções aos professores, por isso cada um vai ensinar conforme a sua consciência o indicar. O problema vai reflectir-se nos exames ou talvez não: os professores correctores vão receber indicações do GAVE para aceitarem as duas ortografias, tal como o fazem actualmente para as duas terminologias.

O Ministério não sabe que indicações dar. As decisões estão a ser tomadas em cima do joelho e corrigidas no dia seguinte. Todos os dias chega legislação às escolas que contraria a do dia anterior. Ora é necessário rever o Regulamento Interno à pressa, ora temos até ao final do ano; ora há avaliação para todos, ora não há; ora temos de definir objectivos individuais para este ano, ora será só para o ano. Mas o que é isto, meus senhores? Que barco é este que tem um destino, mas ninguém sabe como lá chegar? Até há pessoas que nada entendem do que se passa actualmente no mar das escolas que já querem dar sugestões de como comandar as embarcações (turmas) superlotadas. Nós queremos ensinar e conduzir o barco a bom porto, mas há uma tempestade de ventos contrários lançados pela comandante da armada que leva cada um para seu lado. Não tenho dúvidas de que todos naufragaremos numa sociedade sem valores, sem assiduidade, sem respeito e sem produtividade.

Vou dar um exemplo muito simples para que todos o entendam: se um dia eu chegasse a uma sala de aula e dissesse que "Maria" era um nome próprio; no dia seguinte, um adjectivo, depois, um verbo e, no final, reafirmasse que era um nome próprio, acham que algum aluno confiaria em mim?

Podemos também nós confiar neste Ministério e no que ele está a fazer ao nosso país?

Se confiam nesta ministra para gerir a educação dos vossos filhos, têm de confiar muito mais nos professores, que, apesar de não serem perfeitos, cometem menos erros.


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