Já perdemos demasiado tempo com avisos que caem em saco roto. Este Estatuto do Aluno, teoricamente retocado sob sugestão da Presidência, ficou uma lástima absoluta. Se sugestões existiram por parte de Belém, ou pouco de diferente tinham a acrescentar ou pura e simplesmente foram ignoradas.
Para Rainha de Inglaterra, já chega. O magistério de influência já se reparou que só funciona quando interessa.
Assim como é triste que seja preciso uma filmagem amadora de um adolescente mal-educado a idolatrar o comportamento de uma colega igualmente mal-educada, para as almas se inquietarem.
Os avisos sucessivos, durante três anos, por parte de quem está «por dentro» do sistema e sabe há muito os erros cometidos, neste período e antes, de nada serviram. São sempre tomadas de posição «corporativas», de quem quer «manter o poder» e os «privilégios».
Chega um caso singular e o copo parece que de repente está cheio e a transbordar, quando antes parecia ainda estar meio vazio. No caso dos docentes há muito que transborda. Para as almas subitamente inquietadas é que parece que agora chegou o momento de reclamarem.
É triste. Repito-o.
Este episódio e o que significa mais não é do que o corolário de um processo, que vivemos há anos, de destruição da imagem e fundamentos da Escola como instituição para ser levada a sério e do trabalho que lá se desenvolve como fulcral para o país.
O declínio da Educação não é culpa nem dos alunos, nem das famílias, nem dos professores.
É culpa, pura e simplesmente dos políticos.
Há que dizê-lo sem rodeios.
Foram eles que forneceram o roteiro para o descalabro do aspecto essencial e ventral da Educação que é a transmissão de competências e saberes, na forma de aquisição de aprendizagens e preparação para novas descobertas.
Não é demagogia, apenas a pura realidade objectiva. A culpa é dos políticos que (verdade seja dita) ajudámos a aleger, por acção ou omissão. Dos mesmos políticos que delapidaram, sem vantagens evidentes, os dinheiros do FSE e agora vão fazer o mesmo com as Novas Oportunidades. Milhões e milhões se perderão nas canalizações e filtros burocráticos que lucra(ra)m com estes fundos comunitários. Quanto ao país e à população em geral, servem-se-lhe qualificações e certificações em forma de canudo.
Mas o actual Presidente da República também tem as suas responsabilidades e talvez por isso se expliquem certas hesitações.
No seu primeiro mandato maioritário permitiu que Roberto Carneiro lançasse uma reforma demasiado ambiciosa para o nosso país (não estou aqui a evocar afinidades ou diferenças globais ou específicas com a dita reforma). Depois, no segundo mandato, deixou que a retalhassem por completo e dela deixassem ficar quase só o lado negativo. Foi então - quando os ministros da Educação se sucederam entre coutos, durões e leites - que floresceu a Pedagogia do Sucesso, o húmus de onde brotaram as benaventes que vieram a seguir e os valteres que agora aturamos a completar o serviço que deixaram inacabado nos anos 90.
Nas escolas públicas, a generalidade dos alunos e professores fazem o que podem para sobreviver e dar um mínimo de dignidade a esta charada legislativa. Mas cada vez observam que esse é um esforço não recompensado, nem sequer socialmente gratificante. Os bons alunos são em muitas circunstâncias amesquinhados e maltratados física e psicologicamente pelos campeões dos pátios, os rebeldes que não sabem o que é uma causa nem que a vejam pintada de cor de rosa, em forma de elefante, num corredor iluminado. Os professores que se esforçam apoucados no seu trabalho por uma tutela que só gosta de autómatos acríticos, geradores de sucesso estatístico.
Não há que recear ser claro, nem sob ameaça de processos disciplinares ou judiciais: a culpa foi e é de políticos seduzidos pelos resultados de curto prazo. Pelos efeitos mediáticos fáceis. Pelas estatísticas para consumo interno e externo. Pelas fórmulas retóricas tonitruantes mas de conteúdo nulo.
Foram muitos os ME’s neste últimos 20-25 anos. pois foram. Mas foram globalmente (sendo muito escassas as excepções e quase singulares os casos que aliaram qualidade e obra efectiva) medíocres. Nisso não deparamos hoje com novidades. A única diferença é que no actual ME os defeitos refinaram e as qualidades perderam-se quase por completo.
O Presidente da República está chocado.
Seja bem-vindo ao clube.
Pelas minhas contas é um clube vasto com centenas de milhar (ou mais) de alunos, encarregados de educação e docentes responsáveis e que a cada dia que passa se questionam sobre o que terão feito para serem obrigados a suportar isto.
http://educar.wordpress.com/2008/03/29/e-bom-que-se-choque-mesmo/
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